AGUA 18/06
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Cupins constroem cidade subterrânea do tamanho da Grã-Bretanha

Cupins constroem cidade subterrânea do tamanho da Grã-Bretanha
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Obra de engenharia animal se estende em uma superfície de 230.000 km2, no nordeste do Brasil. Descoberta foi publicada na revista científica Current Biology

Brasília – Os cupins ‘Syntermes dirus’ medem apenas um centímetro, mas por quase quatro milênios criaram no Brasil uma rede subterrânea de túneis, cujas escavações deixaram 200 milhões de montes de terra em uma superfície do tamanho da Grã-Bretanha.

 Cientista Roy Funch

Cientista Roy Funch – AFP PHOTO / SCIENTIST ROY FUNCH / ROY FUNCH

“É o maior exemplo conhecido de bioengenharia e construção na superfície da terra por uma só espécie (fora do ser humano), e tudo feito por um inseto de mais ou menos um centímetro de comprimento”, explica à AFP Roy Funch, biólogo americano naturalizado brasileiro.

Toda esta obra de engenharia animal se estende em uma superfície de 230.000 km2, no nordeste do Brasil. Funch e outros três pesquisadores (dois americanos e um britânico) publicaram sua descoberta na semana passada na revista científica Current Biology.

Eles detalham que a terra escavada por estes insetos para criar uma estrutura como essa equivale a “4.000 pirâmides de Gizé”, no Egito, também milenares.

Os habitantes do lugar conhecem desde sempre como “murundus” estes montes de 2,5 metros de altura e nove metros de diâmetro, cobertos pela vegetação da ‘caatinga’, o bioma semiárido do nordeste brasileiro.

Mas o desmatamento pela ação humana deixou mais visíveis os cupinzeiros, e o uso de imagens de satélite permitiu concluir a área que cobrem. Mais de 90% pertence ao estado da Bahia. “Então ficou claro a sua extensão, e a importância científica do fenômeno”, acrescenta Funch.

As imagens divulgadas no estudo mostram vastas extensões de terra pontilhada por estes montes cônicos, praticamente idênticos e com uma distribuição regular, separados por cerca de 20 metros uns dos outros.

O desenho da cidade

Para determinar a antiguidade da obra, os cientistas recolheram amostras do solo de onze montes e verificaram qual foi a última vez que estiveram expostas ao sol. A amostra mais antiga tinha 3.820 anos. Essas idades são comparáveis às dos cupins mais antigos do mundo, na África, diz a publicação.

Agora que foi determinado que estes cupinzeiros são parte de uma grande “cidade” subterrânea, a ideia dos cientistas é continuar pesquisando sua distribuição e funcionamento. Sabe-se, por exemplo, que os cupinzeiros têm um túnel vertical que conecta os túneis subterrâneos com a superfície.

Os montes de terra que ficam na superfície são simplesmente a terra removida pelos cupins para sua obra. “Os montes aparentemente não têm a função de abrigar os ninhos dos cupins. Servem somente como lugares de ‘despejo’ do material retirado dos túneis que os cupins cavam, continuamente, em baixo do chão”, explica Funch.

Sabe-se também que estas estruturas subterrâneas servem para esses insetos se protegerem do “meio inóspito (e perigoso) da superfície”. Segundo o estudo publicado, os túneis nunca ficam abertos ao ambiente, de modo que não se trata de um sistema de ventilação, mas de uma via de comunicação.

À noite, quando há comida disponível, grupos de 10 a 50 ‘trabalhadores’ e ‘soldados’ emergem dos montes através de tubos temporários de oito milímetros de diâmetro, escavados a partir de baixo. Depois de usados, os túneis temporários se fecham hermeticamente.

“Não temos ideia da arquitetura das ‘cidades’ dos insetos. Devem ter um salão da rainha, ‘berçários’, espaços para guardar comida, etc., e muitos túneis conectando tudo, mas é tudo desconhecido para a ciência”, acrescenta o biólogo.

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