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Exemplo no combate a pandemia do vírus covid-19 Portugal sofre pressão para relaxar isolamento

Exemplo no combate a pandemia  do vírus covid-19 Portugal sofre pressão para relaxar isolamento
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País europeu que melhor tem enfrentado a epidemia da Covid-19 considerando os recursos médicos disponíveis, Portugal começa a sofrer pressões de segmentos da sociedade civil para flexibilizar a sua bem-sucedida política de isolamento social.

Com ela, os portugueses têm mantido a taxa de mortos pelo coronavírus em relação aos casos confirmados ao redor de 3%. O índice é um pouco superior aos 2,3% da Alemanha, considerada um dos grandes exemplos positivos nesta epidemia.

Mas as diferenças entre os dois países na área médica são enormes. Enquanto Portugal conta com apenas 4,2 leitos de UTI para cada 100 mil habitantes, a Alemanha tem 29,2 leitos por 100 mil, uma das maiores taxas do mundo —o que confere ao país melhores chances de recuperar doentes graves.

Como comparação, o Brasil tem uma taxa de 24 leitos de UTI por 100 mil habitantes e vem registrando 5,5% de óbitos em relação aos total de casos confirmados.

Os dados brasileiros, porém, além de iniciais, têm sido vistos com desconfiança, seja em relação ao total de infectados (já que há enorme subnotificação de casos e poucos testes) quanto ao número real de mortos pela Covid-19.

O Brasil tem mais leitos de UTIs do que muitos países, mas eles são muito concentrados no setor privado (49 por 100 mil segurados) e a política de internação em unidades intensivas, segundo especialistas, é menos restritiva.

Nos casos de Portugal e Alemanha, mesmo levando em conta o tamanho da população dos dois países, o total de infectados é proporcionalmente muito semelhante.

A estratégia de forte isolamento em Portugal foi adotada justamente devido à precariedade do seu sistema de tratamento intensivo e diante das terríveis notícias que chegavam aos portugueses no início da epidemia da vizinha Espanha e da Itália.

Nesta segunda (13), porém, 167 entidades patronais, de trabalhadores e da sociedade civil, além de outras personalidades portuguesas incluindo até chefs de restaurantes, enviaram um manifesto ao presidente da República, ao presidente da Assembleia e ao primeiro-ministro defendendo o relaxamento da política de isolamento.

“É fundamental criarmos uma alternativa a novos períodos de lockdown —que se apresentam como um modelo cego e com impacto sem retorno na economia”, afirmam os signatários do documento, entre eles António Saraiva, da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), e Carlos Silva, da União Geral de Trabalhadores (UGT).

“Não é possível suspender a atividade econômica até que não exista qualquer risco de contágio”, prossegue o documento. “O nosso modelo de sociedade não suportaria uma espera tão prolongada.”

Durante a crise financeira da década passada, Portugal foi um dos países que mais sofreram com a recessão, o desemprego e uma crise fiscal que levou a especulações sobre sua permanência na zona do euro.

As entidades sugerem 12 pontos que deveriam ser observados para relaxar o isolamento e recuperar mais uma vez a economia.

Entre eles, os principais seriam testar todos os casos suspeitos num prazo 24 horas desde a manifestação de sintomas e a massificação de teste sorológicos na população em geral —além da manutenção em isolamento dos casos confirmados e do trabalho em casa quando isso for possível.

Portugal permanecerá em estado de emergência pelo menos até sexta (17), o que pressupõe o lockdown.

Desde que o primeiro caso de infecção foi confirmado, em 2 de março, o país está na terceira e mais forte fase de resposta à doença (mitigação), ativada quando há transmissão local, em ambiente fechado ou comunitária.

Para o médico português Rui Moreno, ex-presidente da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva e diretor no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, “Portugal ainda está longe de ganhar a guerra” contra a Covid-19.

“Temos renovado nosso estado de emergência e talvez seja preciso fazer isso mais vezes. Ainda temos que ‘ganhar o mês de maio’ em abril”, diz Moreno, em referência à necessidade de “achatar a curva” de casos graves e impedir que as UTIs fiquem lotadas mais à frente.

Enquanto crescem as pressões por relaxar o isolamento em seu país, Moreno diz que Portugal assistiu com incredulidade às declarações do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, quando qualificou a epidemia como uma “gripezinha”.

Segundo ele, uma das estratégias que vêm sendo consideradas é começar a levantar as restrições no interior do país (menos povoado) em direção ao litoral, além de liberar para trabalhar primeiramente os mais jovens.

Para ajudar na contenção do vírus e no tratamento de doentes no sistema público, há duas semanas Portugal decidiu regularizar todos os imigrantes que haviam feito pedidos para residência legal até 18 de março. Eles agora também podem receber ajuda financeira do governo.

Além dessa medida, até esta semana o país libertou cerca de 400 presos das cadeias para que possam se isolar em casa.

Os dados oficiais mais recentes contabilizam 535 mortos e 16.934 casos de infeção confirmados em Portugal.​

 Folhapress

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