AGUA 18/06
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Homenagem ao Seu Vicente da Banca de Revistas em Santana do Ipanema

Homenagem ao Seu Vicente da Banca de Revistas em Santana do Ipanema
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Homenagem do jornalista Fernando Valões, ao ilustre Vicente Oliveira, sargento da Policia Militar de Alagoas, que fez história em Santana do Ipanema, Alagoas.  Foi dele a primeira banca de revista na cidade.

A era da comunicação impressa em Santana de Ipanema. Nos anos 60, a bossa nova, o samba, o sertanejo de raiz e a jovem guarda explodiam no Brasil, principalmente na TV Tupi. Em Santana de Ipanema, o terceiro sargento da Polícia Militar de Alagoas, Vicente Oliveira, vivia em Santana como imperador. Ele sempre achou que a cidade fosse um reino de muita paz, entre humildes pessoas abastadas que conviviam na inocência do amor. Em pouco tempo, ele sentiu o desejo de contribuir mais ainda por Santana de Ipanema e traz para a cidade no final dos anos 60, A primeira banca de revistas do sertão alagoano. Na época só existia na capital, Palmeira dos Índios, com outro empreendedor conhecido por gato, em Arapiraca, a Banca do Argentino e Santana de Ipanema com a banca de revistas do agora empresário Vicente Oliveira. Para se ter uma banca de revistas no início dos anos 70, tinha que ter paixão pela cultura e uma dedicação e um olhar diferenciado para a criança e os adolescentes, já que as promoções no mundo literário vinham para os jovens. O lançamento do Chibis, desde a década de 50. O que tinha nos Estados Unidos, agora era importado para Santana de Ipanema. A riqueza do tio Patinhas, a esperteza dos irmãos Metralhas. A paixão do Pato Donald. O amor de Magali. O Homem-Aranha. A Mulher-Maravilha. Texa. Kazan. E, principalmente, os álbuns de figurinhas. Que eram atrativos para os jovens. Se disputava, na palma da mão, a disputa de troca de figurinhas. No Bafa-Bafa. E a cidade começava a ter um local diferente. O primeiro ponte de cultura de Santana de Ipanema foi na banca de Seu Vicente. Lá, era uma disputa. Porque quando chegavam os pacotes de figurinhas, muita gente precisava, muitos colecionadores precisavam apenas de uma figurinha para preencher a página. E pediam o pacote, tinha repetidas, já tinha. Hoje, o pacote aberto, já tinha. Às vezes, você saia frustrado, você juntava dinheiro e, quando chegava lá, comprava três, quatro pacotinhos, que vinham três figurinhas, eram repetidas. Mas aquela, para fechar a página, para ganhar uma bola de futebol, uma bicicleta, uma boneca, um raio, essa demorava a ser encontrada, mas vinha. E o Sr. Vicente muitas vezes atendia na porta da calçada. Me dê dois pacotes, me dê três. E ali ele recebia o dinheiro e colocava no bolso. Mas os adultos apreciavam os jornais. Gazeta de Alagoas, Jornal de Alagoas, Tribuna de Alagoas, Diário de Pernambuco. Até o escadão, a Folha de São Paulo, chegava na banca do Sr. Vicente. Mesmo com atraso de três dias. O charme da revista Mochete, da Cruzeiro, da Playboy, com um plástico em cimaE os dizeres, proibido para menores de 18 anos. E não adiantava insistir o menor para comprar que o Sr. Vicente dizia proibido, a respeitar a lei. E ele como um oficial da polícia, ele não tinha como descumprir. A banca de revista cresceu, foi para vários lugares, às vezes os empreendimentos eram vendidos, tinham que ser derrubados. E a banca saia de um lugar para outro, mas nunca ele desestimulava. O Sr. Vicente gostava de um bom papo, principalmente com os repórteres das rádios, quando surgiram as rádios, diminuiu mais o movimento. Mas enquanto não tinha rádio em Santana de Ipanema e a TV não chegava com qualidade, o bom era ter a revista como atrativo. E os editores, sabendo que não tinha televisão em todas as cidades, faziam as novelas na revista, com print de fotografias, e sempre deixavam o próximo capítulo para a próxima revista. O tempo foi passando, algumas revistas desapareceram, outras foram sendo engolidas pela internet, mas ele sempre estava ali, de prontidão. Ele estava de pé na porta da banca, quando não tinha movimento, olhando as pessoas passarem, cumprimentarem a todos, e dizendo das novidades. Tem novidades, chegou novas revistas, ele sempre fazia sua propaganda, realizando o seu próprio carisma. Como estudante radialista, depois jornalista, era um prazer falar com ele das coisas boas de Santana de Ipanema. Em pouco tempo tive o privilégio de fazer algumas campanhas ao seus filhos. Hoje, o advogado Paulo Fernando. Eram dois Fernandes disputando o mandato de vereador. E, como nós não podíamos comprar votos, sempre éramos… sofriam as trapaças de alguns da própria Justiça, na época, Justiça Eleitoral, que substituía os meus votos do Fernando e do Paulo Fernando para outras pessoas. Com a urna eletrônica isso acabou. Ah, seu Vicente, com aquela roupa… O seu visual era de um gentleman. Um olhar diferente, calça de linha, sapato… Camisas, devido a temperatura do sertão, de mangas curtas, mas sempre com um bom chapéu. Seria o nosso Valdir Soriano, santanense. O boêmio. Falar de Vicente Oliveira teria que passar horas e horas com as brincadeiras, sempre alegre, nunca alguém viu ele de mau humor, sempre alegre. E por isso chegou aos 84 anos. Se vivo estivesse, hoje estaria beirando o centenário. Falar dos filhos, filhas da professora Nanete era de um atrativo delicioso que servia no olhar deles uma paz de espírito. Finalizo essa homenagem, que será também colocada para outras pessoas, com o carinho daquele que me ensinou muito, eu e a milhares de outros jovens, a ler e escrever, depois de ler dezenas e dezenas de gibis e livros. Essa foi a homenagem de Fernando Valões, através da Rádio Cidade, Rádio Cacique, Rádio Francês do Agrensea o seu Vicente da banca de revistas.

Homenagem ao Seu Vicente da Banca de Revistas (Última parte)

Nos anos 1960, o Brasil vivia um verdadeiro boom cultural. A Bossa Nova, o Samba, o Sertanejo de raiz e a Jovem Guarda dominavam as rádios e a televisão, especialmente na TV Tupi. Enquanto isso, em Santana de Ipanema, um homem começava a mudar o cenário da comunicação impressa na cidade: o terceiro sargento da Polícia Militar de Alagoas, Vicente Oliveira.

Para Vicente, Santana de Ipanema era um pequeno reino de paz, onde humildes e abastados conviviam na inocência do amor. Mas ele queria contribuir ainda mais para o desenvolvimento local. Foi assim que, no final dos anos 1960, trouxe para a cidade a primeira banca de revistas do sertão alagoano. Na época, esse tipo de comércio era raro no interior de Alagoas, existindo apenas na capital, em Palmeira dos Índios, com o empreendedor conhecido por Gato, e em Arapiraca, com a Banca do Argentino.

Ter uma banca de revistas no início dos anos 1970 exigia mais do que visão empreendedora. Era preciso paixão pela cultura e um olhar atento para crianças e adolescentes, que eram o público-alvo das publicações juvenis. Foi ali que chegaram os primeiros gibis em Santana do Ipanema, trazendo personagens icônicos como Tio Patinhas, os Irmãos Metralha, Pato Donald, Magali, Homem-Aranha, Mulher-Maravilha, Tex e Tarzan. Mas nada encantava tanto a juventude quanto os álbuns de figurinhas.

A disputa por figurinhas raras era um verdadeiro evento. No famoso “bafa-bafa”, os jovens trocavam repetidas na tentativa de completar suas coleções. Muitos economizavam dinheiro para comprar pacotinhos, torcendo para encontrar aquela última figurinha que garantiria prêmios como bolas de futebol, bicicletas ou bonecas. Seu Vicente, sempre presente, atendia os clientes até na calçada, colocando o dinheiro no bolso enquanto vendia pacotes de esperanças com figurinhas.

Mas a banca não era apenas um ponto de encontro para crianças e adolescentes. Os adultos também frequentavam o local em busca de jornais como Gazeta de Alagoas, Jornal de Alagoas, Tribuna de Alagoas e Diário de Pernambuco. Até a Folha de São Paulo chegava, ainda que com três dias de atraso. As revistas O Cruzeiro, Manchete e Playboy também estavam lá, esta última sempre envolta em plástico e acompanhada do aviso: “Proibido para menores de 18 anos”. Seu Vicente, como policial e homem de princípios, fazia questão de respeitar a lei e não cedia às tentativas dos mais jovens de burlar a regra.

Com o tempo, a banca cresceu, mudou de endereço algumas vezes e enfrentou desafios, mas Vicente Oliveira nunca perdeu a paixão pelo que fazia. Ele adorava conversar, especialmente com repórteres das rádios locais, que, com a chegada das transmissões, começaram a diminuir o movimento da banca. Antes da popularização da TV e do rádio na cidade, as revistas ainda eram a principal forma de acompanhar as novelas, que vinham impressas em fotografias e deixavam o próximo capítulo sempre como um mistério a ser revelado na edição seguinte.

O tempo passou, algumas revistas desapareceram, outras foram substituídas pela internet, mas Seu Vicente permaneceu fiel ao seu ofício. Sempre de pé na porta da banca, cumprimentava a todos e anunciava as novidades com entusiasmo: “Chegaram revistas novas!”. Seu carisma era sua melhor propaganda.

Como estudante de radialismo e depois jornalista, tive o privilégio de conviver com ele e de participar de campanhas ao lado de seus filhos. Entre eles, Paulo Fernando, advogado, que já disputou mandato de vereador. Naquela época, sem urna eletrônica, enfrentávamos dificuldades com fraudes eleitorais, mas seguíamos firmes.

Seu Vicente tinha um estilo próprio de se vestir: calça de linho, sapatos bem cuidados, camisas de mangas curtas – adequadas ao calor do sertão – e um chapéu que completava seu visual distinto. Era um verdadeiro gentleman, uma espécie de “Waldick Soriano” santanense, boêmio e sempre de bom humor. Nunca se via Vicente de mau humor. Talvez esse espírito leve tenha contribuído para sua longa vida, chegando aos 84 anos. Se estivesse vivo, estaria próximo do centenário.

Falar de Vicente Oliveira é relembrar uma época em que a cultura impressa unia gerações. Ele não apenas vendeu revistas e jornais, mas ajudou a formar leitores e a incentivar o hábito da leitura em milhares de jovens, incluindo eu mesmo.

Esta é minha homenagem, transmitida através da Rádio Cidade, Rádio Cacique e Rádio Francês do Agreste, a esse homem que fez história em Santana de Ipanema. Seu Vicente da banca de revistas deixou um legado que nunca será esquecido. Escrito por Fernando Valões. Com edição de Sarah Valentina.

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