EVANGÉLICOS E POLÍTICA Aprovação de Lula dispara entre evangélicos e pode definir eleição de 2026

Nova pesquisa AtlasIntel em parceria com a Bloomberg mostra que aprovação do presidente entre evangélicos saltou de 21,5% para 30,4% em apenas um mês. Dados indicam que discursos como os de Silas Malafaia têm perdido influência
Julho de 2025 trouxe um dado surpreendente para o cenário político e religioso brasileiro: a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os evangélicos teve um crescimento expressivo, desafiando narrativas consolidadas sobre a relação entre esse segmento religioso e o governo federal.
Segundo a pesquisa AtlasIntel em parceria com a Bloomberg, divulgada nesta quinta-feira (31), a aprovação de Lula entre os evangélicos passou de 21,5% em junho para 30,4% em julho — um aumento de quase nove pontos percentuais em apenas um mês. O número dos que avaliam o governo como “ótimo” ou “bom” também acompanhou essa tendência, saltando de 19,8% para 29,8% no mesmo intervalo.
Esse salto não apenas representa um dos maiores diferenciais de crescimento da pesquisa, mas também sinaliza uma possível mudança de rumos dentro de um eleitorado que, nas últimas eleições, majoritariamente apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Virada silenciosa nas periferias
Para o pastor e teólogo Zé Barbosa Junior, que também é historiador e especialista em Ciências políticas, três fatores centrais podem explicar essa reaproximação: o acerto em políticas públicas voltadas às periferias, uma comunicação mais eficiente com as bases populares, e o discurso firme contra privilégios e pela soberania nacional.
“A taxação dos super-ricos e o enfrentamento direto com os interesses do governo Trump são elementos que ressoam com um sentimento de justiça e orgulho nacional. Isso tem peso simbólico importante para setores populares, inclusive entre os evangélicos”, afirma o pastor.
A melhora nos indicadores sociais, como a ampliação do Programa Pé-de-Meia, o reajuste real do Bolsa Família e investimentos em habitação e mobilidade urbana, também tem sido percebida diretamente nos territórios onde os evangélicos são maioria: as periferias urbanas e cidades do interior.
Malafaia perde espaço
Outro dado que chama atenção nos bastidores do Planalto é que o crescimento da aprovação ocorre em paralelo ao esvaziamento da influência de figuras como o pastor Silas Malafaia, um dos principais porta-vozes da oposição evangélica ao governo Lula.
Conhecido por suas falas inflamadas e frequentes ataques ao PT, Malafaia tem encontrado cada vez menos eco entre os fiéis, especialmente entre os mais jovens e entre pastores de igrejas pequenas e independentes.
Mesmo dentro da própria base evangélica conservadora, há quem defenda um “reposicionamento estratégico”, diante da constatação de que Lula não representa a ameaça ideológica que foi pintada em campanhas anteriores.
Desmonte da narrativa do ‘inimigo da fé’
O governo, por sua vez, parece ter aprendido com os erros do passado. Ministérios como o da Educação, Saúde, Direitos Humanos e Cidadania passaram a adotar uma linguagem mais acessível, evitando embates diretos com o campo religioso e focando em entregas concretas.
Apesar do avanço, a relação ainda é delicada. A maioria do segmento evangélico continua crítica ao governo, e, mesmo não tendo a mesma força de antes, lideranças como Malafaia, Marco Feliciano e Magno Malta seguem com ampla visibilidade.
Além disso, 2026 já se desenha no horizonte como um novo embate eleitoral, e a disputa pelo voto evangélico será intensa. Mesmo assim, o crescimento registrado pela pesquisa Bloomberg pode ser o início de uma virada simbólica: a ideia de que ser evangélico e apoiar Lula não é mais uma contradição — mas uma possibilidade real e crescente.
O que diz a pesquisa:
Aprovação de Lula entre evangélicos:
Junho/25: 21,5%
Julho/25: 30,4%
Avaliação “ótimo/bom” do governo entre evangélicos:
Junho/25: 19,8%
Julho/25: 29,8%
“O recado da pesquisa é claro: existe uma base evangélica mais pragmática, sensível às pautas sociais e menos presa ao discurso de guerra cultural. E essa base está, sim, disposta a dialogar com o governo”, conclui Zé Barbosa, pastor.