CPMI DO INSS CPMI começa a investigar “playboys do INSS”, beneficiados nos governos Temer e Bolsonaro
Grupo ligado ao esquema inclui empresário Felipe Gomes, acusado de atuar em organização que teria desviado mais de R$ 1,1 bilhão de aposentados.
A CPMI do INSS ouve nesta segunda-feira (20), às 16h, Felipe Macedo Gomes, de 35 anos, ex-presidente da Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), apontado pela Polícia Federal e pela CGU como um dos principais operadores do esquema que desviou mais de R$ 1,1 bilhão de aposentados e pensionistas por meio de descontos fraudulentos.
O depoimento ocorre após decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que obrigou Felipe Gomes a comparecer à comissão. A medida, tomada na sexta-feira (17), reformou um habeas corpus anterior que tornava facultativa sua presença. O pedido foi apresentado pelo presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG). Segundo a decisão, o ex-dirigente deve comparecer, mas poderá permanecer em silêncio durante o depoimento.
A oitiva é considerada uma das mais importantes da comissão, que investiga como associações usaram convênios com o INSS para aplicar descontos ilegais nos benefícios de aposentados. Os depoimentos desta segunda-feira também marcam uma virada na CPMI, que passa a investigar os beneficiados nos governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), que destruíram a regulamentação sindical e permitiu a entrada de associações como a ABCB no oferecimento de crédito consignado.
A convocação de Felipe foi aprovada em sete requerimentos apresentados pelos senadores Fabiano Contarato (PT-ES) e Damares Alves (Republicanos-DF), além dos deputados Rogério Correia (PT-MG), Orlando Silva (PCdoB-SP), Paulo Pimenta (PT-RS) e Evair Vieira de Melo (PP-ES).
A sessão também contará com a participação da ex-integrante do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), Tonia Andrea Inocentini Galleti, que denunciou irregularidades em convênios firmados com sindicatos e entidades
O grupo dos “playboys do INSS”
Felipe Gomes é apontado como líder de um grupo formado por Igor Dias Delecrode, de 28 anos, Anderson Cordeiro, de 38, e Américo Monte, de 45, conhecido como “o decano”. Juntos, eles controlavam as associações Amar Brasil Clube de Benefícios, Master Prev, ANDAPP e AASAP, que movimentaram cerca de R$ 700 milhões com descontos indevidos sobre benefícios previdenciários.
Relatórios do Coaf e documentos internos mostram que o grupo desviava o dinheiro arrecadado para empresas próprias, usando um sistema de biometria fraudulenta para falsificar assinaturas e simular filiações. Parte dos valores teria sido usada para bancar carros esportivos, joias, embarcações e imóveis de luxo.
As investigações também apontam pagamentos a parentes de dirigentes do INSS e o envolvimento de fintechs e construtoras ligadas aos investigados. O grupo mantinha ainda empresas de crédito consignado em Alphaville, bairro nobre de Barueri (SP), onde viviam em mansões de alto padrão.
Vitória do governo Lula
Na última quinta-feira (16), a CPMI do INSS rejeitou, por 19 votos a 11, a convocação de Frei Chico, irmão do presidente Lula e vice do Sindnapi. A tentativa partiu da bancada bolsonarista, que tenta transformar a investigação em palanque político para 2026.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) criticou a manobra, afirmando que a oposição quer “colar Lula ao escândalo sem qualquer prova”. Já o deputado Rogério Correia (PT-MG) disse à Revista Fórum que a estratégia “deu outro tiro no pé”.
“Eles queriam convocar um homem de 84 anos enquanto ignoram os playboys de 30 que participaram diretamente do esquema. Nosso trabalho é investigar os verdadeiros responsáveis”, completou Eliziane.
Revista Forum