Polícia do Rio constrangeu parentes de vítimas da chacina
Agentes tentaram colher depoimentos de familiares no IML durante o reconhecimento dos mortos da Operação Contenção
Familiares de pessoas mortas na Operação Contenção, considerada a chacina mais letal da história do Brasil, relataram situações de constrangimento e abuso no Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro, para onde os corpos foram levados
Interrogatório durante o luto
Segundo a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, os agentes faziam perguntas inapropriadas a mães, pais, irmãos e companheiras das vítimas, questionando se os mortos “trabalhavam”, “em que”, “se andavam em más companhias” ou “se estavam envolvidos com o crime”.
A abordagem, além de invasiva, ocorreu em meio a um momento de profunda dor das famílias.
Defensoria intervém e interrompe interrogatórios
Defensores públicos que acompanhavam o caso passaram a monitorar as ações e alertaram os parentes de que não tinham obrigação de responder às perguntas. O defensor Pedro Carriello afirmou à colunista que, após uma conversa com os agentes, a prática foi interrompida.
“Ali não é a hora e o local de tomar depoimentos”, afirmou Carriello.
“Por mais que houvesse voluntariedade, que as pessoas quisessem falar, o momento não era apropriado. As famílias têm direito ao luto.”
Violação de protocolos e decisões judiciais
O defensor destacou ainda que a atuação dos policiais fere decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e de cortes internacionais, que determinam que, em casos de violência estatal, a própria polícia não pode conduzir as investigações — já que isso implicaria avaliar a conduta de seus próprios integrantes.
Carriello reforçou que, no contexto do reconhecimento de corpos, os agentes só poderiam solicitar informações básicas, como o grau de parentesco, o endereço e documentos que comprovassem a relação familiar com a vítima.
A Operação Contenção, realizada em comunidades do Rio, resultou no maior número de mortes já registrado em uma ação policial no Brasil, reacendendo o debate sobre a violência de Estado, o racismo estrutural e a impunidade de agentes públicos em operações letais.
REDAÇÃO